"O problema são as pessoas"
- Carolina Proença
- 20 de ago. de 2024
- 3 min de leitura

Dia desses, estava aguardando em uma fila e foi impossível não ouvir a conversa entre duas moças que estavam atrás de mim. Elas, que aparentemente trabalhavam juntas, desabafavam sobre a empresa, os chefes, os colegas, quando uma delas concluiu:
“É um bom lugar para se trabalhar. Tem oportunidade de crescimento, muitos benefícios, o problema são as pessoas.”
Contive o riso. “Sempre são as pessoas”, pensei. Mas, será mesmo?
Sua terapia é sobre quem?
Entre idas e vindas, posso dizer que faço terapia há mais de 20 anos. Ela foi essencial para melhorar a timidez na infância e superar a depressão que tive na adolescência. Com toda certeza, é minha maior aliada para encarar a vida adulta.
Só que ainda faltava algo para ser uma ferramenta realmente efetiva. Talvez eu estivesse utilizando mal aquele espaço.
Percebi que durante 1h de sessão eu falava mais dos outros do que de mim. Trazia mais os acontecimentos do mundo externo do que do meu mundo interior. Concluí que estava desperdiçando uma oportunidade valiosa de me entender.
Mas a maturidade chega e começamos a questionar nossas escolhas ao invés de caçar culpados. Passei a me perguntar por que sempre aceitei situações que não eram boas para mim.
Um relacionamento abusivo, empresas tóxicas, salários abaixo do mercado e a falta reciprocidade nas relações pessoais e profissionais. Por que disso tudo? Para encontrar as respostas, precisei revisitar minha infância e adolescência.
Remexer no passado não é fácil, mas necessário.
Descobri que a baixa autoestima e o excesso de autocrítica, me fizeram construir a crença de que não era merecedora de amor, repeito, prosperidade e sucesso. Logo, deveria me contentar com qualquer coisa. Isso é o que me fazia cair nos mesmos ciclos.
Identificar esses pontos tem sido essencial para que eu aprenda qual é meu valor e perceba as minhas autossabotagens.
Talvez seja hora da faxina…
Conto a minha história porque sei muito bem que não sou a única. Todos nós temos esse (mau) hábito de “varrer” as memórias dolorosas para debaixo do tapete. Vamos “mobiliando o resto da casa” com o trabalho, academia, amigos, religião e, em alguns casos, com os vícios. Quem sabe aquilo some, né?
Infelizmente não funciona assim. Porque chega o dia em que um abençoado acaba tropeçando naquela pequena montanha. O caos se instaura. “Como não viu?” você se pergunta, p* da vida. Eu te devolvo: como VOCÊ fingiu que não viu?
A faxina interna das emoções é uma responsabilidade sua, por mais que não queira encarar a bagunça. Isso inclusive foi retratado no filme Divertidamente 2 e poucas pessoas perceberam.
Na história, todas as recordações que geravam emoções negativas, deveriam ser enviadas para o subconsciente. Porém, com os desafios externos e a puberdade, tudo que estava escondido veio à tona, desestabilizando a personagem.
E você reparou na mente dos pais de Riley? A mente da mãe, uma mulher adulta, é “comandada” pela Tristeza, enquanto a do pai, um homem adulto, é “comandada” pelo Raiva. Isso diz muito sobre como os traumas e as emoções reprimidas afetam nossa personalidade e ações.

Só existe um caminho
E você sabe qual é, o autoconhecimento. O problema é achar que vai ser tranquilo trilhá-lo.
Esqueça seu o tênis que amortece o impacto, estabiliza a pisada e não derrapa na chuva. Essa caminhada se faz descalço. É preciso aprender a sentir o asfalto quente, a areia fofa e a espuma das ondas do mar. Se conhecer é ter orgulho do pé calejado sem se preocupar com o julgamento alheio.
A verdade que liberta
A maior lição que o autoconhecimento traz é justamente saber diferenciar o que é nosso do que é do outro.
Ninguém pode mudar ninguém. E isso liberta. A única coisa que podemos fazer é mudar a nós mesmos em busca da evolução e assim, quem sabe, inspirarmos a mudança nos que estão em volta.
O mundo não vai deixar de ser tóxico tão cedo, então cabe a você desenvolver o próprio antídoto e não se deixar intoxicar. Grandes transformações começam quando um indivíduo decide se libertar dos próprios demônios.
Para finalizar, trago uma fala da Joanna de Âgelis, figura importante no Espiritismo, que me inspira muito e reflete perfeitamente cada palavra que aqui foi escrita:
“Ao final dessa jornada, quando olhar para trás, perceberá que as pessoas, os problemas e mesmo esse mundo, nunca existiram como você os via. Eles só foram colocados em torno de ti para te dar a oportunidade de evoluir enquanto espírito.
[...] Quando chegar o último dia desse corpo aqui na Terra, verá que a luta nunca foi contra o outro. O tempo inteiro foi entre você e você mesmo.
O maior desafio da criatura humana, é a própria criatura humana”
Gostaria de dizer para aquela moça da fila que o problema não está nas pessoas. E ainda bem que é assim.

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